A influência do podcast nas mídias tradicionais
Desde 2018 estamos vendo nos relatórios de tendências de conteúdo e mídia digital que “esse é o ano do podcast”. E realmente, de lá pra cá tivemos a cada ano uma intensificação desse tipo de conteúdo digital que ainda está vivendo seu momento de glória.
O grande pico se deu durante a pandemia, entre 2020 e 2021, quando as pessoas já não aguentavam mais ficar em casa e estavam em busca de informação, entretenimento ou apenas algo novo para fazer. Foi aí que o mundo dos podcasts bombou. Tanto em audiência como em produção.
Obviamente que de lá pra cá as produções foram diminuindo, os entusiastas perceberam que a execução não é assim tão simples como parece, que exige esforço e dedicação manter uma audiência fiel e um conteúdo de qualidade no ar. Soma-se a isso o fato das pessoas saírem do home-office, a volta da correria do dia a dia e o boom dos podcasts em vídeo, que acabaram ganhando mais visibilidade e aumentando o custo e o trabalho da produção.
Assim como várias pesquisas apontam, a curva das produções de podcasts e videocasts ainda tende a cair um pouco mais, porém a audiência segue crescendo. E obviamente que os grandes players do mercado de comunicação estão de olho nisso tudo.
Um domingo desses eu vi um trecho do Fantástico e pude comprovar essa teoria em dois momentos no mesmo bloco do programa. Primeiro, durante o quadro “Bichos na Escuta – Meu Trabalho é Animal” em que toda a estética visual do programa remete à estética de podcast. Tanto a apresentadora como a especialista convidada estão em um cenário de estúdio, usando fones de ouvido e em frente a um microfone de mesa. Obviamente dá para perceber que é um cenário figurativo, mas essa menção ao mundo do podcast em um programa de TV aberta nos faz perceber que o mercado tradicional está se moldando a esse novo formato e tentando fazer esse cross de público entre a TV e as plataformas digitais. Como fiquei intrigada com a estética do quadro, fui pesquisar e descobri algo ainda mais relevante: o quadro apresentado em um dos programas de maior audiência do país é derivado de um podcast semanal, da mesma apresentadora, e que está no ar desde junho de 2021. Fica aqui então o questionamento: será que as mídias tradicionais estão com medo das plataformas digitais? Será que elas querem apenas embarcar na onda desse movimento para parecerem moderninhas? Ou será que o mercado como um todo está se adaptando para cobrir todas as frentes possíveis e marcar presença no digital?
O outro momento no mesmo domingo que também me chamou a atenção foi uma grande matéria sobre o retorno do programa “Linha Direta”. Se você é jovem talvez não se lembre, mas o Linha Direta foi um programa de TV de muito sucesso que teve 3 fases e foi exibido em diferentes períodos entre os anos 90 e 2000. Basicamente, a essência do programa é recontar a história de grandes crimes que chocaram o país e que ainda não foram solucionados, oferecendo ao final um número de denúncia anônima para quem tiver informações sobre os suspeitos. Mas, e o que isso tudo tem a ver com podcast? Um dos gêneros de podcast que mais fazem sucesso no Brasil e no mundo é o “true crime”, ou seja, crimes reais, em que os casos são contados de maneira investigativa e recheada de suspense. Então, se o mercado de comunicação de massa está atento às tendências, me parece meio óbvio a retomada de um programa desses que também terá a sua versão em podcast, com toda certeza.
A verdade é que se a gente parar para analisar todos os meios e formatos de comunicação, vamos ver que tudo acaba se misturando em algum momento. Da mesma maneira que o podcast está ditando tendência na TV aberta, com o aumento dos podcasts em vídeo a preocupação com cenários e elementos visuais dos podcasts estão fazendo com que eles cada vez mais se pareçam com programas de TV, do tipo entrevista. O grande lance sempre gira em torno do engajamento e da resposta do público. Então não adianta nada o podcast investir em vídeo e a TV investir nas plataformas digitais se não for isso que a audiência busca consumir. Por hora, essa grande mistura de formatos e ideias tem se mostrado cada vez mais positiva para ambos os lados, então é seguir acompanhando para ver até onde cada meio vai manter a sua essência ou se novos meios, plataformas e formatos ainda vão surgir. Qual sua aposta?